Tuesday, May 17, 2005

QUINTO IMPÉRIO e SEBASTIANISMO

Desde tempos idos que houve megalómanos e visionários, que procuraram, utopicamente, ser donos deste Terraquio que, ao fim e ao cabo é de todos e não é de ninguém!...
Assim, surgiram os quatro grandes impérios da Antiguidade: o egípcio, o assírio-caldaico, o persa e o romano, que acabaram por se desmembrar e até mesmo destruir devido, principalmente, à acção implacável do tempo – o que julgo só haver sido benéfico para a Humanidade.
Na sucessão dessas grandes e poderosas potências, viria então o Quinto Império – sonho visionário do Padre António Vieira, sob o ceptro de D. João IV, cognominado de “O Restaurador”.
Os sonhos de Vieira, de Pessoa e de outros não passaram de meras utopias.
Não devemos no entanto esquecer que o Pe. António Vieira (o maior expoente de todos, neste tema) sonhava um Império muito diferente de todos os outros, construído sobre uma base cristã, ou seja: “Portugal iria reconstruir no Mundo o reino universal de Cristo”.
Tem havido interpretações diversas sobre o assunto, o que aliás é salutar, porquanto isso contribui para um maior enriquecimento da nossa História, um pouco mal conhecida, pese dizê-lo, pela maior parte dos Portugueses nos tempos que vão correndo…O nosso notável Fernando Pessoa também se sentiu obcecado e apaixonado pelo Quinto Império, ao qual dedicou ainda um longo poema, escrito e concluído entre 1923 e 1935 (ano da sua morte), bem como numerosos fragmentos.
Lembro-me de ter lido, algures, e ouvido dizer que a sua Poesia e os seus escritos deixam transparecer uma espécie de sebastianismo, talvez pelo facto de ter “uma costela de judaico!” e de os Judeus, ainda hoje, inspirarem um não sei quê de messiânico; crerem em qualquer coisa que está para vir: o Messias, o Sebastião, o Quinto Império, etc.
Como atrás referi, sempre houve e haverá megalómanos e visionários (no bom e no mau sentido...).
Por exemplo: D. Sebastião desejava, ardentemente um Império Português, em África.
Napoleão sonhava o Império do Mundo. Hitler, mais ou menos a mesma coisa...e, assim por diante.
Pobres visionários, cujos sonhos não eram, a bem dizer, mais que efémeros "castelos no ar", face à lei da Eternidade!...
Confesso não sentir grande simpatia pelas definições de "Império e Imperialismo", visto significarem para mim, domínio e, tantas vezes, esmagamento dos mais fracos, pelos mais fortes e poderosos, quase sempre a título de uma pseudo ajuda benéfica.
Gostaria de frisar que estas linhas que ora dedico a tão vasto e interessante tema -,sobre o qual se têm debruçado tantas figuras de primeiro plano -, são apenas uma pálida ideia de um simples auto-didacta e não historiador, que só o fez, por muito gostar do seu amado Portugal.

J.F.MARQUES



J.F.MARQUES, O Explicador

SEBASTIANISMO - Um Pouco Acerca do Rei D.Sebastião e do Sebastianismo

Há quem diga que o rei D. Sebastião, o Desejado, nasceu em Évora em 1537 e não em Lisboa em 1554. Tinha 14 anos de idade em 1551 -, data em que tomou as rédeas do Governo, dado que foi considerado de maioridade. Nasceu algumas semanas depois da morte de seu pai.
Foi cognominado de o Desejado, porque o povo ansiava o nascimento do menino-rei, isto é de um salvador da Pátria que, a bem dizer, se encontrava no limiar da agonia.
Apesar dos misteriosos e maus presságios que antecederam o nascimento do nobre menino, quase sempre férteis em vaticínios e futurologias, particularmente quando se trate de figuras de elevado quilate, como era o caso do aludido menino, - o povo continuava no entanto a sentir-se animado da esperança de que ele viria a ser, de facto, o salvador que a nação tanto desjava e necessitava.
Elogiado por uns e enegrecido por outros, que lhe chamavam rapazola, tresloucado, degenerado e fanfarrão, creio que nenhuma das vidas dos nossos restantes reis despertou tanto a atenção dos escritores como a vida deste desventurado monarca.
Pelo menos até ao séc. XIX, os escritores que se ocupavam da vida do Desejado, não ousaram retratá-lo e julgá-lo com a dureza e fealdade que caracterizavam os escritos do chamado Século das Luzes.


Era, sobretudo, muito inteligente e impressionável. Além disso, era também assaz influenciável, em certos momentos, dadas as suas inexperiência e imaturidade, o que aliás era natural, na sua tenra idade. Com o seu temperamento, ao mesmo tempo guerreiro e contemplativo, facilmente recebeu as lições do preceptor e do aio-, homens que não obstante serem considerados como mestres dignos de ministrarem a educação de um rei-, só fizeram dele um pobre visionário que, como se sabe, arrastou o reino para a ruína, em consequência da catastrófica derrota de Alcácer-Kibir.
Se Portugal já estava enfermo antes disso, mais doente ficou a partir daí, uma vez que, logo a seguir, praticamente, perdeu a sua tão cara e preciosa independência.
De balde todos, sem excepção, instavam com ele para que desistisse da sua nefasta empresa. aspirava a todo o custo possuir um Império português em Marrocos. Teimoso, rebelde, impusivo, fanático e de ideias megalómanas, não quis ouvir conselhos de ninguém e dirigiu-se a Alcácer-Kibir, cidade em Marrocos, onde se travou a batalha de 4 de Agosto de 1578, na qual foi destroçado pelos mouros o exército português,- onde despareceu o rei e ficou cativa grande parte da fidalguia portuguesa, - não se constituindo assim o tão sonhado Império.
O nosso exército mal organizado e dirigido, cansado da viagem e afectado pelo calor escaldante do deserto, ja não se sentiria, certamente, motivado para essa peleja infernal.
E, foi assim o desfecho desta insensata aventura. O rei desapareceu e da sua sorte nunca mais se soube. O povo não quis acreditar na sua morte, e formou-se em torno do seu nome, não só uma lenda, mas também uma seita, que ficou conhecida pelos Sebastianistas. Fenómeno ou superstição colectiva que as especulações de autores tornaram célebre: o Sebastianismo, - embora as suas origens sejam anteriores à morte e até ao nascimento de D. Sebastião.

A sua misteriosa morte deu lugar às trovas e profecias do sapateiro Bandarra, de Trancoso, além de outros. Mas o mito não foi só popular, porquanto espíritos cultos especularam sobre o assunto. O melhor expoente do Sebastianismo foi o Padre António Vieira.
A morte do infeliz monarca, porém, acabou por ser oficialmente reconhecida.
Em 1582, o cadáver suposto ou verdadeiro, veio para Portugal e foi enterrado num túmulo da igreja de Belém, onde se escreveu um pequeno epitáfio em latim, que parece deixar transparecer a dúvida, porque diz, ”Aqui jaz, si vera est fama…”.
António Telmo refere que, segundo a tradição, o escudo de Portugal no Portal Oriental que dá entrada para a Igreja dos Jerónimos está rachado pelo meio desde a morte de D. Sebastião em Alcácer-Kibir.
Decorridos quatro séculos sobre tão nefasto e inesquecível acontecimento, ainda hoje se ouve dizer a um certo número de Portugueses, mais pessimistas, que o atraso do nosso País, em relação a outros mais desenvolvidos, se deve em parte ao facto de ainda não estarmos libertos dos estigmas do Sebastianismo.
Opiniões de que não partilho, por entender desfavoráveis à resolução dos problemas que se nos deparem, no dia a dia.

Como aliás já foi referido, o povo não se convencera que D. Sebastião tivesse morrido em Alcácer Kibir. Muitos espíritos crédulos continuaram a acreditar que o rei se conservava oculto numa ilha ignorada, de onde, em manhã de nevoeiro, voltaria para reclamar os eu trono aos Espanhóis.
Assim se gerou a lenda do Príncipe Encoberto e a dita seita dos Sebastianistas, que durou mais de duzentos anos.
Tudo isto deu azo a que quatro impostores tentassem fazer-se passar pelo rei desaparecido. Foram desmascarados e severamente punidos.

J.F.MARQUES